... sobre a cultura enquanto tesouro global

Beatas cadentes da varanda em sinal de fadiga pela sumptuosidade que é a subversão. Crescemos tanto sós, num nós despersonificado que foi a regulação do cogitar. Estremecem-nos as veias pela tensão que é admitir que criámos mais que podemos manter em nós e agora a humanidade são nomes soltos de glória e fama por isto e aquilo: o suposto nós é um real eu de fora que se centra na sua arrogância de descobrir ou denominar.

Os momentos que fizémos para nos sentirmos altruístas são autênticos momentos de egoísmo e puro nacionalismo: um imperialismo cultural. Destruímos a experiência dos outros quando propagámos a nossa como dogma, e cada vez mais creio que a escrita foi realmente uma dádiva que nos infectou de forma crónica, num paradoxo que é saber e partilhar ou ignorar por não partilhar.

Enquanto os campos são muitos e os interesses escasseiam nuns lados para proliferar exponencialmente mais noutros, a escolha deixa-nos dum lado acultural, e mesmo o que aqui exponho é um crime contra si mesmo. Informar e comunicar é tão necessário quanto imoral desta perspectiva que tenho do tudo já feito, e aqui e agora, em decadência.

Aprender a saber viver foi o momento de cultura mamífera que paradigmatizou as espécies: são o que são quando sabem o que são. Essa nossa busca tem vindo a espalhar-se em tantos domínios que, apesar de considerados animais enobrecidos, vemo-nos em degredo quando nos apercebemos que não sabemos de todo o que somos, cingindo-nos à pré-histórica capacidade simbólica de dar nomes coisas. Continuamos a tratar tudo como se tivesse alma e, do tão racional que somos, abrimos guerra sempre que algo se mostra impróprio ao nome que lhe pretendemos dar.

Quem somos, o que fomos e que seremos, são questões perdidas no seu próprio tempo. O que fizémos, fazemos e faremos, na técnica e na arte. Para quê, para quem e para onde são complicações do nosso devir.

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