As Luzes Cegam-me

Havia um sub-tom mortal na sua voz: uma clave ou duas que choravam. As sílabas pareciam rastejar-lhe da boca para fora, como se tivessem noção das próprias bestas sub-reptícias que seriam. Certamente soubera como a noite se lhe prostituira, como os valores se viram derreter à luz da vida nas sombras. E como todos só queria a perfeição: qualquer que fosse a sua fruição ou representação. Seria isto?, poderia a prova ser a cristalização, o cúmulo ou pique do nojo?

As palavras continuavam a vomitar-se-lhe sem ninguém para as ouvir ou limpar - porque eram sujas: Só vivi... só vivi às escuras. As luzes doíam na vista. Quem me dera recuar, quem me dera voltar ao momento a que fui dado à luz, para lhe aprender a sobreviver. Agora sinto o sangue corroído da cegueira, como se o coração pulsasse insegurança, frio e ubiquidades.

Quem me dera recuar, quem me dera voltar ao nada-tudo, à morte de ser parido.



Comentários

Mensagens populares deste blogue

Estalactite

Antígona de Gelo

Furacão de Esmeraldas