escrever

já não escrevo, não escrevo tão bem quanto escrevia em Janeiro ou Fevereiro e olho com desdém a época em que escrevia bem.
escrevo agora com medo, medo de escrever o que as pessoas podem interpretar mal.
escrevo limitado à escolha de palavras ou um "AHAH" pode aparecer-me em anónimo nos comentários.
escrevo com medo de ser ameaçado com SMSs em anónimo que me futuramente transportarão para um hospital.
escrevo e sou ameaçado por não ter escrito ou por ter escrito e terem interpretado mal.
escrevo só livre quando escrevo e depois queimo as folhas de papel.
escrevo e sinto a dor de não conseguir escrever o que quero.
escrevo e apago o que escrevi, risco o que já risquei e apago evidências, pois o meu passado condicionou o meu presente e agora... agora já não escrevo textos, copio frases que já foram escritas e sou condenado a apagá-las, precisamente por já terem sido escritas.
escrevo e já não escrevo com sentimento, escrevo sem consentimento, por outro lado pois tudo o que escrevo é culpado e mentira, e tudo o que digo é que a luz já não me ilumina.
escrevo desde o cinzento, novamente, no crepúsculo do bem e do mal, na pontezinha que os separa e escrevo, sem saber de que lado estou, pois estou no meio.
escrevo e espero por um futuro onde não olhe às críticas pois estas deitaram-me abaixo vezes demais.
escrevo e não posso escrever que escrevo um pedido de desculpas, pois o cépticismo e o ego colocam as pessoas no lugar dos que o recebem realmente.

Trema: Tive de apagar o passado deles para os guiar para o futuro.
Yuna: Enganas-te. Mesmo que tenha tentado ser mais forte e tenha querido mudar... Percebi que perder o meu passado, significaria perder-me a mim mesmo.

escrevo hoje e já não penso assim, hoje só penso em perder o meu passado, apanhar uma amnésia, começar tudo de novo, porquê? não é arrependimento, não tenho motivos - não tenho nada, aliás, só o medo de escrever e ser atacado por monstros que vêm de todos os lados.
escrevo com esse medo e com o de perder o que ainda tenho, a arte de escrever.
escrevo enquanto procuro nova forma de arte, tentei o desenho mas desenhei palavras, tentei a música, toquei letras.
escrevo com frio, sem o calor que tinha quando escrevia livre.
escrevo numa gaiola congelada, sem os meus diamantes, sem a minha liberdade, sem as minhas escamas de glória, sem capacidade.
escrevo um sonho, mas esse já acabou pois todos os sonhos duram uma noite e quando voltam, só duram mais essa.
escrevo na esperança de deixar um legado e que esse legado não seja negativo, pelo menos, mais do que já o é.
escrevo sem flutuar.

não escrevo, não - imagino uma escrita.

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