Vaidade Vitimal.


Vítima do crime de existir. A realidade estremece, é uma onda de som que ecoa pelas águas e a luz são sombras nas ondas que captas nos teus olhos... a vida é um comprimido suicida a tomar, somos vítimas da eternidade.

O teu reflexo no límpido rio não existe, a entidade é cega pelas vozes que te tornam no que não és - a mentira torna-se a tua realidade. Emolduras estátuas de ti mesmo em ouro e diamantes, é um pedaço de madeira esculpido da tua falta de discernimento. Vaidade onírica, unicórnios e sereias são sonhos, mas só os vampiros sabem ser inexistentes.

Nervoso, embebedei-me em tragos de tinta com que escrevi um testamento à dor que sentia, era o fim de um mundo que não ia acabar ali. A mente não suportava sentir com os sentidos, a realidade era feia e dura. Amei para ser odiado em três excertos de carícias que se tornaram lágrimas de melancolia - considerei-me um "isto", algo que não era eu, pedaço de essência desnecessário.

Sou um ser composto de oximoros, a fama é o que mais procuro, aquilo que mais repugno. A escadaria de diamantes ergue-se à minha frente e, especado, mantenho-me imóvel: tenho medo de falhar os degraus, tenho medo de os alcançar. Contraditório núcleo, eu posso ser tudo menos um estilhaço fundamental de um vidro partido para ser só partes que reflectem a minha essência. Para uns sou um reflexo de fama, para outros sou o pior degredo, para mim eu sou

A vaidade e o orgulho de mãos dadas na estrada da inveja, o por do Sol é algum desdém que brilha sobre eles. A vida é feita de todos os lábios que já beijei, do desprezo que dou à ficção do meu passado. CAVEIRA, ELES DESCOBRIRAM, ELES DESCOBRIRAM! Eu quis mudar o mundo com os meus lábios: paz, solidão e felicidade.

Eram quatro da manhã e as lágrimas fluíam um mar de desencantos, cristalizavam-se em memórias suspeitas de inexistirem - as razões para a minha infelicidade multiplicavam-se na paranóia do medo do escuro. As esperanças são jogos demoníacos da mente, derretem o olhar para mundos esverdeados por vir... que nunca chegam.

No corredor ardido desabrocham rosas, purificadas almas dos cadáveres que morreram por amar, neste fogo que lhes arrebatou as almas. A minha provação na berma da verdade e da ficção e só resta uma citação - o meu passado é um conto escrito para não ser filmado. Estou aqui para existir como figura de desejo que a minha silhueta supere o tamanho do mundo. O triunfo nunca será meu mas de quem se libertar da verdade e da mentira para viver a sua vida de olhos abertos.

E assim somos vítimas diárias de atentados à identidade e a culpa é só nossa por não termos uma.

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