II. Disco Externo

Uma mão sai do ecrã para se cravar no teu peito. Já não há tempo: esta dor é composta de apertos emocionais. Aquilo não é o físico-coração que bombeia o sangue, mas o núcleo de todas as tuas emoções. Um órgão não-físico que se força afora do corpo. Uma ânsia por não te teres desviado a tempo.

Passam duas chaves a sobrevoar e reluzir na tua direcção, uma roxa, outra verde. Ouves um estalar de dedos e as chaves explodem num fogo-de-artifício. Algo te diz, de mão cravada no coração, que eram almas que rebentavam. Estás espantado, mas não tens coração... emocional... para o sentir. Tirem as mãos do meu receptáculo, o anterior resistiu à escuridão. 

"Duas pessoas esperam na rua um acontecimento e a aparição dos principais actores. O acontecimento já está a ocorrer e elas são os actores" Nathaniel Hawthorne

O meu objectivo é espremer a tinta do coração. Desse que emana escuridão e mantém luz própria. O teu sangue é tinta para reescrever aquele livro. De seguida vou dividir uma dimensão em treze e registar os meus treze finais felizes.

Uma a uma, doze outras silhuetas constituem um círculo em teu torno. Reconhecíveis, inomináveis. O cenário quebra-se qual vitral. Estás numa sala branca, numa bolha de vidro, com os membros agrilhoados. No centro está o livro e uma chave. Eis que a última cara que pretendias ver agora é a que te aperta o coração: de cabelo branco e olhos dourados.

Abruptamente tira a mão do teu peito e mostra a apontar. Aqui o tens, podes ver a aura obscura à volta e aquela luz vermelha lá dentro, humana. Este coração é um erro, um feliz erro. O coração é espremido para a chave. À medida, os teus pés e mãos acorrentados agem por si em dores excruciantes. Mas continuas preso na bolha de vidro.

O que é que te consumiu afinal? A escuridão não é essência nem propriedade dos corações. O teu papel vai ser o de propelir, ver e sentir cada segundo de felicidade que tiraste. Nas treze dimensões em simultâneo. E a única constante, de cá para lá, vai ser esse cristal em que estás preso. Eu... ou devo dizer nós... não vou saber quem és, nem que és.

Tocou com a chave no livro. Onde vamos? Perguntas. Para um sítio horrível, absolutamente horrível. Onde o único final feliz são os meus treze era uma vez...

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