VII. O Estrangeiro

A maré não se mexe nesta praia. Há uma silhueta negra deitada na areia e alguém a aproximar-se. Quem és? Não é normal ter visitas. Estás sozinho?

É a segunda vez que aqui chego sem ir. De mim, não sei quem nem quando. Foi-se tudo nas marés que me trouxeram e entretanto pararam. Não sei como sair. E queres sair? Eu prometi aos meus amigos. 

Pontos luminosos. Na pouca memória que tenho fazes-me lembrar um rapaz que visitava e distribuia luminosidade com um sorriso. Tudo parecia a salvo. O que é que aconteceu às dimensões? Nós desenhámos um mapa para um lugar melhor.

Estilhaçaram-se sete vezes entretanto. Algumas mantêm-se de pé. Há um elemento constante, uma aura ou sopro transcendental. Como se as dimensões respirassem. Para tantos mundos existe um só céu. Um só céu e um só destino. 

Não sei quantas vezes vivi o fim da história e fui até aqui carregado pelas correntes. Não sei de mais ninguém. Lembro-me de ter vendido um livro. Esse rapaz... a sua aura era obscura por dentro e luminosa por fora?

Receio o exacto oposto. Quanto tempo é que passou? Pelo menos um ano. Renascer pelo sono. O coração escreveu demasiadas tragédias. Aí limpei a consciência ao instinto e guardei o remédio num disco.

A balança. Podem salvar-se as vidas que arruinei. A todos ainda é possível a felicidade final. Tantas histórias esperam ter o seu verdadeiro era uma vez. Até a tua. Até a minha.

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