painkiller

"olá, porque é que me tratas tão mal?"

oh a dor, a dor insuportável, dores que me matam aos poucos, queimam-me as vísceras e as entranhas corróem aos poucos, sinto-me tão desumanizado, tão fraco, impotente, tão possesso pela dor. não sinto a minha cara e combato estes calafrios incapacitado. não vou escapar desta doença, do mundo cruel que me cai aos ombros, da força com que me empurra para a gravidade.

não vou fugir de cobardia, é um preço que temos de pagar por existir, ter os valores e desvalores da vida e o sofrimento é um deles, e um constante. já nada me é certo, já tudo tem duplo significado, um sorriso é uma lágrima, um abraço é uma facada. já nada é verdade e cada vez sinto mais ter razão que não há mais certeza que a incerteza.

que tudo no mundo é um espelho do que nós somos e o que nós somos é o que os outros para nós são, pois todos somos espelhos uns dos outros. como os golfinhos que aprendem a brincar e se ensinam uns aos outros, não somos superiores a eles, eles também comunicam, também brincam, também aprendem... tal como nós, pois somos certamente o incerto que criamos. tudo o que falamos é improvável e, sendo improvável é incerto, pois já de nada se tem certezas.

tenho medo do escuro
de noite sinto-me nervoso
tenho medo do dia
não suporto a luz do maldoso

temo que um dia
alguém me venha buscar
tenho medo de fugir
morrerei se ficar

temo servir para tirar as incertezas ao mundo. por outro lado, tirar as incertezas ao mundo seria tirar a sua essência. mas quando algo sobrepõe o seu contrário, significa que o contrário também o pode sobrepor. saber que sabemos menos do que o que não sabemos significa que um dia saberemos mais do que não sabemos. se por agora somos uma particula de um átomo, um dia seremos um ser e mais tarde um mundo. mas para um átomo, somos mais do que parecemos.

"é o medo do escuro que vive dentro de mim e um dia se tornará vida"

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