3. Seis Lanças Num Furacão.

Eu toquei na face de todas essas ignorâncias,
E ajudei o próprio Zéfiro a soprar novos ventos,
Reconheci a extravagância destas seringas,
Eram lanças que me rasgavam os braços.
Não eram drogas, eu vivia na guerra.

Os teus dentes injectaram-me de água benta,
O sangue, de tão místico e surreal, tornou-se vida,
E as tuas asas puxavam os meus punhos de álcool.
A tua voz causava dormência aos meus olhos,
Mas a firmeza de te alcançar e morrer manteve-se.

A lama escorre e essa colher não aquece sozinha.
Como pontes num oceano, a inconstância dá-me pressas.
A multiplicidade e a única unidade do caleidoscópio,
Estas quimeras fazem parte da mesma personalidade,
Em vários recantos de um simples cérebro.

Estranheza e encantamentos para mudar o invisível.
Os dragões deitam-me e tratam-me nessas cadeias,
O cheiro a carne não indica que eu seja o seu jantar,
Por outro lado, aqui eu serei sempre o meu próprio Rei.
Sou a miragem de cristais e incêndios.

Mas as masmorras são buracos de serpentes e correntes,
Memórias presas em ferros e detalhes, forjam-me.
Para mais mágoas chegam-me estas garrafas,
Continuo a nadar nos meus abraços ao absinto,
Sonhando com pequenas nuvens de sabão.

Seis lanças num furacão, seis espetadas num coração,
Dormiram comigo, descobri quando acordei,
São demónios de uma velha frustração,
Castelos na areia e sarcófagos mumificados,
Inalaram as últimas achas desta fogueira.

Eu sou sempre quem não sou.


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