X. O Ás de Destinos.

Vamos saltar as formalidades. Afirmemos que o Ás de Destinos é um jogador, em cuja mão estão A Morte e A Torre. Jogamos dados que são indiscretas afirmações e as nossas bocas unem-se por míseros segundos numa orgia de sorte - faz parte da regra e da única forma de jogar. A roleta russa é uma solução quando a pistola tem a câmara cheia. A vida é um percalço.

Ordeiramente entrego as cartas e esperamos que o jogo termine num acaso. Uma ordem para um diabrete. Não é desespero nenhum saber que estamos na linha de fogo... que em segundos podemos ser glorificados ou fulminados - uma sensação de excitação brilhante, o calafrio de sentir viva a nossa projecção de sorte.

A vida é uma partida para ser ganha, mas que toda a gente perde. Somos os próprios peões e duques para uma realeza, movidos por mãos de lógica e fortuna. Pedir aos céus pela sorte é a trapaça mais fraca - se não tentar, simplesmente não alcanço. Se evitar, a emoção cresce e, não morrendo de uma maneira... vou acabar estendido de outra.

Deambulo pelas mais finas fantasias das slot machines. Entrego a pistola com menos uma bala porque falhei a testa - sentir que a morte falhou dá-nos descanso por instantes... e rapidamente tenho o revolver na mão. Ninguém quer viver de medos - decidir vida ou morte no rolar de um dado é adrenalina suficiente para três sexos. Questões de magia e batota, vivemos para nunca descobrir - não há milagres no desespero.

Não percas tempo, o primeiro a ficar sem tempo perde. Um trago de absinto e lanças os dados. E outro. E outro. E a roleta pára mas ainda a vês rodar. Cigarros e cigarros - o sonho americano é uma mentira, aqui estamos para desgastar a mente, queimar as cinzas do pensamento e afogar as últimas mágoas que possamos ter.

Ilude-te, prometo que te vai acalmar. Mas, à medida que jogas, as correntes de Valetes apertam em volta do teu pescoço e lambem os últimos suspiros que lanças. Só abres os olhos quando sentes o sangue falhar, quando a tua mão de Damas está tingida do teu próprio vermelho. Ganhar... a que custo?

Aqui não jogamos para sobreviver. Vivemos para deixar a jogada eternalizada.


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