Superior da Penumbra.


Colecciono complexos que não iluminam as minhas mais escuras lástimas. A resposta está na minha constante busca de uma nova dimensão, vestindo novas almas, um coração de cada vez. As teorias só me retratam a mim mesmo, vivo numa constante duvida sobre a minha autenticidade, sobre a essência que existe em constante mutação. Um núcleo repetitivo para uma canalização de diferentes ondas e luzes de cores.

Hoje inauguro e repito monstros da minha vida. Em júbilo e na melancolia, o coração conduziu-me à obliteração. Copo a copo, gota a gota, todos passam por isto. A solidão rodeada de novidade levou-me ao pânico, à regurgitação vital. E sonhei sobre os ódios mais ancestrais, ouvi as suas vozes digitais unindo-me a eles para novas tramas e dilacerações. Riam-se de mim como que coberto de pós dourados, rosados e brilhantes.

Eu vivo no interior, no meio de tudo e nada, onde existem as coisas. Eu sou o que sobra e ao mesmo tempo sou tudo o que alguma vez existiu. Um preâmbulo e ao mesmo tempo a epígrafe de uma entidade divina. O meu inbetween é esta superioridade problemática de reconhecer um mundo cinzento. Não preto. Não branco. Cinzento. Uma capacidade de simplesmente reconhecer diferenças nas semelhanças e aceitar que a divergência é a ideia que forma a igualdade.

Quem me faz assumir a condição de pessoa são os meus medos e as minhas mentiras. A constante actuação pode ser quebrada com gotas. E o meu sonho é morrer aos braços dos meus medos. No fundo, eu só quero que o oceano me abrace e congele o corpo com que vivi. Este egoísmo a que chama ligação é só um estudo da minha definição.

Os ecos da culpa são pregos cravados nas mãos que procuram o chão para rastejar. O fumo, tal como as palavras, escapam-me da boca para nunca mais serem engolidos. Frases caras e fáceis que nunca devia ter soltado. Não tenho a capacidade bestial de aceitar as afirmações como as devia acatar. E em minha culpa, minha tão grande culpa - já não há anjos nem santos, e nem a puta da água benta me pode resgatar do inferno onde sempre quis reinar.

Custa muito rastejar com demónios sobre o nosso trono. São diabretes de pés escaldantes que me espezinham as costas, quando todo o meu desejo é rever as minhas memórias de luzes e ondas - nesta eternidade morta de sofrimento. Quando decidi ordenar estas alucinações, elas afogaram-me em absinto, pegando fogo de seguida. O álcool é uma cruel meretriz que nos vicia nos seus sexos.

De mente apedrejada, qual prostituta, nunca me mantive tão fiel a uma jornada. Pelas oníricas e idílicas dimensões, pela capacidade e pela definição. Eu sou o Mestre do Crepúsculo, sou eu que mando nas cinzas que moldo para vestir. Espelhos e máscaras, fumos e cristais - nem a perfeição nem a depravação são humanas mas os humanos são ambas. Só quero que a besta salve o humano.

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