sofrimento

Um acto não leva a outro quando a violência ultrapassa um limite de intensidade ou quando a força imposta no acto não chega para o realizar na totalidade. Assim, um desejo realiza-se quando se modifica sob a força de um outro desejo ou a violência de um outro acontecimento. A realização de um desejo implica que um tempo-espaço se condicione de forma a que as acções ou acontecimentos se alterem e se rejam segundo o pedido feito. O que pode ser um mero acaso é vítima de forças que nem nós entendemos mas existem provadas e condicionam as dimensões para as alterar e criar o que alguém deseja.

"Faz-se o luto de uma morte, de um amor, de um acontecimento irremediável, ou recusa-se a fazê-lo, deixando, por exemplo, o quarto do morto intocado e intocável, procurando esquecer o amor perdido por meio de toda a espécie de diversões, etc." Portugal, Hoje - O medo de existir de José Gil.
No caso de o quarto ser tocado... o assunto... podem revelar-se situações de violência que não são esperadas da pessoa que perdeu alguém. A perda de alguém leva às fases do sofrimento: negação, raiva, negociação, depressão e aceitação.

Quando perdemos alguém que muito desejámos negamos essa perda, tomamos a perda como algo que não aconteceu, ou renegamos a pessoa. No primeiro caso, continuamos a viver como se ela ainda estivesse entre nós; no segundo fingímos odiá-la. "Eu não estou aqui, isto não está a acontecer".

De seguida vem a pior fase, quando alguém mete álcool na ferida e contra-reagimos bruscamente, odiando tudo e todos, isolando-nos e atacando quem toca no assunto preterido. "Porque é que isto está a acontecer?"

Depois vem a negociação, com deus ou com uma entidade que nos ajude, rastejando e prometendo tudo em troca da recuperação do que foi perdido. Por outro lado, a negociação também se pode revelar na busca incessante de algo positivo na perda. "Faço de tudo para que tudo volte ao normal, mas por favor ajuda-me"

Por fim, sentimos que somos incapazes de alterar a realidade, encostamo-nos a um canto, abraçamos os joelhos e balouçamo-nos que nem loucos dizendo "Já não me resta nada, pouco mais importa, já não quero saber"

E finalmente, após a fase da depressão que leva a loucuras, e caso essas não aconteçam, temos a fase da aceitação. A fase em que aceitamos que já não podemos recuperar o que perdemos.

Comentários

  1. Muitas vezes sentimos que tudo deixa de fazer sentido e a verdade é que somos nós mesmos que quase nos atiramos pelo precipicio.
    Acima de tudo há que entender as perdas, pois estas fazem parte da vida e são elas que nos fazem seguir em frente...e quando não as entendemos, agradecemos que os amigos nos abanem e nos façam acordar para a realidade:) LY

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  2. o problema é que o ser humano é repetitivo em relação às perdas. todos sentimos o mesmo quando perdemos alguém e evoluímos segundo as fases que apresentei... é estranho mas é verdade. eu, acima de tudo também tenho saudades de mim, dos meus antigos sonhos e da minha antiga personalidade que hoje me mostra como eu não sou o mesmo em relação às pessoas que adorava quando tinha a outra personalidade...

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