A Ligação.

As estrelas são as mesmas para ti e para mim. A humanidade é uma, sem evolução nem caminho - não somos bons, de facto, estamos mais próximos de nos prostituir pela destruição. Despedaçamos e fortalecemos o significado da mortalidade que nos dá coerência e igualdade - só isso criamos, a destruição. A gravidez serve para mais um morrer. Intimidade e imortalidade ao mesmo tempo que a certeza de que está morto - desejamos ao ódio a balança da verdadeira igualdade. Só cá estamos para ser pó. De nada a pó, não há fama eterna senão a grande conquista que enterra os nossos Reis. Linhas e agulhas espetadas em corações, puxadas e perfuram outras almas. Servimos para remendar rasgões inexistentes - a Natureza vivia melhor sem nós.

Espezinhamos o mundo com as falsificações de que nos calçamos - não fosse a Natureza assustar-nos primeiro. Em mim está um profundo medo daquilo em que nos tornamos, cada vez mais perdemos a pureza da humanidade. Os valores prendem-nos a paredes que tornam a liberdade oca - é para isso que os desejos servem, para serem perseguidos. Desperdício da Terra, escravos da espiral tecnológica, a nossa gula canibaliza a Mãe.

Um Rei forçado a mentir - uma nova concepção do Universo baseada na ilusão. Coerente com a realidade que é sonhada, devo fumar a Natureza e largar o bago de areia para que se criem florestas de espelhos. Há que manter a esquizofrenia na sua pureza, uma chuva de camaleões translúcidos e diamantes azul turquesa, exibições de atrocidades e a pura felicidade. Esta é a parte viva, o absolutismo de la mort. A única realidade é o fim.

O nascer de um sol para gerações que acabam de chegar e o último segundo de crepúsculo. É esse o tempo que levamos a viver. Sonhamos mais do que vivemos para entender os segredos da vida, quando o único segredo é que só o eterno existe. A vida é um sonho passageiro mas a morte que a segue decorre eternamente. Vivemos o tempo de ver horrores e maravilhas como um comboio pela linha em que não vai parar. Uma ampulheta que conta milésimos de segundo.

Somos humanos - trememos com o pavor de inimigos invisíveis, perdemos vidas com planos triviais, perseguidos por sonhos - viver é cansaço. De leis a que chamamos verdade e caos a que nomeamos mentira. Mentir, enganar e iludir a simplicidade que uma rosa pode ter. Luz e sombra, amor e ódio, confirmar e mentir, tem de haver preto para um branco mas nunca uma união. Respeito, lealdade e devoção para receber a crueldade da quimera - porque é que temos tanto medo da morte? Porque é que tem de ser a morte o lado escuro da vida? Mas mesmo morto, os ideais de Hitler continuaram a matar em seu nome. Mintam por mim porque eu já perdi a fé em guerras santas, apercebi-me que o primeiro racista e machista foi Jesus Cristo.

Os homens morrem. as bestas morrem. As árvores morrem. Até os continentes perecem. O poder da morte e da destruição torna iguais os Reis e os bastardos, e ainda assim negamos ser iguais a quem nasceu do ventre da Terra-Mãe. E o poder esteve nas mãos daqueles que seguraram em armas, que morreram porque tinham esperança de um dia acabar com a morte. Mas porquê questionar algo tão puro? é como dizer ao sol para parar de raiar, pois é a única esperança que temos, a de esperar pela morte. Somos assim tão vãos.

O mundo é minuciosamente cuidado por fios entrelaçados dos destinos que se cruzam. Representam animais e objectos, uns e outros, aqueles e estes. Mas foram dados nós involuntariamente, pelo tecer dos deuses da vida. Uns fios são brancos, os outros são negros: bem e mal, amor e ódio, luz e sombra. Este mundo é feito de fios e cada nó cria um amor e quinhentos ódios. Um amor a quem nos ligamos e a sombra da luz do amor. Entre tudo e todos, A Ligação que nos junta, nas profundidades do núcleo da alma. Perdê-la é encontrá-la, nunca devemos partilhá-la. A minha vida é Arte, o meu amor é a Morte.

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