Santa Puta.

Ser ou não ser não é uma questão quando não falamos.

Violados pelas leis da liberdade, abusamos da nossa predadora ao ponto de a tornarmos poluição. No meu coração alguém se prostitui à esquina da igreja - os rumores obrigam-me a admiti-lo, que me vendo pela filantropia do alienismo.

Sou um poço de prazeres alheios, vago de dignidade e honra, o que os cornos me dizem eu aceito. Vendido ao público, prostituto da mente, alimento de egos. A carapaça é uma armadura de papel queimado pronta a ser penetrada pelas mãos ociosas de quem precisa de atenção e é isto que eu sou. Fácil.

Obcecado pelos outros, filosofante pela felicidade, a liberdade assemelhou-se a um caminho que me engoliu quando mostrou o seu tubarão. Eu tenho regras e sou uma criança. E sendo uma criança banhada em esquizofrenia, fraca psicologicamente, sou Peter Pan e o dragão mau. Eu sou o que eu quiser.

Maria Madalena viu o seu amor pela promiscuidade partir rapidamente quando se obcecou. Jesus Cristo perdoou uma puta que o queria ser - mas não se perdoa quem não se vende, por outro lado, a publicidade aumenta que nem fogos de artifício. A minha solução foi destruir-me. Acabar com a bonita imagem do que vende e tornar-me irreversivelmente em mim mesmo, acidifiquei-me para vender maçãs envenenadas.

A heroína entrou-me nas veias como forma de fazer o caldeirão da libertinagem transbordar, de forma a escapar para a minha própria jaula de insânia e esquecimento - onde me eternalizo a mim mesmo e à minha originalidade. Eu fugi do que o mundo quer para o que o mundo precisa. Não apoio a terra por quem lutei e questiono os meus crimes como crucifico os que cometeram em meu nome.

Agora sinto a minha cara, agora rastejo por mim mesmo e magoo-me para o sentir. Derreto e corto os dedos um a um para alimentar a minha fragilidade e deficiência. Aqui e agora, eu sou eu mesmo - não uma prostituta, não algo apetecível, nem um dogma nem uma fé, eu não sou água para rainhas nem adulteras.

Eu não sou a Santa Puta.