Ridículo Eu.

Isto é a manifestação de toda a minha cobardia. Abaixo sete marés de mercúrio e água, eu rezo por uma última força que me restitua a respiração... ou não. Um suicídio de proporções mágicas e mitológicas, superiores à capacidade prolífera das lágrimas de Werther. Aqui eu espero, sentado, o fim de toda a valentia que o nome não me valeu. Aqui eu espero pela última bolha de ar que cuspa dos meus pulmões.

Mas este suicídio não trouxe um fim - mas sim um começo. Tanta vida quanta morte, aqui começou e acabou. Só quando nos vemos próximos de um fim encontramos alternativas. Só quando aceitei que ia desaparecer descobri de novo as maravilhas da água que me escorre pelo corpo nu enquanto escrevo. A morte não é eterna se pensarmos na vida como todo o tempo que conhecemos.

E aqui eu fico, sossegado enquanto me divirto sozinho com as magnificências da mente sob estupefacientes. Assim acabaria o fim de uma ligação egoísta, entre mim e o meu corpo. Entre o meu interior com este exterior que aqui vos apresento - as memórias de um desejo egoísta. Uma vida de egoísmo isolado, envolto em tretas de guerras, a existência de dinheiro e relações cortadas - cabos que nos penetram os corações e nos ligam elecricamente uns aos outros - uma canseira. Só há paz nesta profundidade, porque de certo modo, nem à superfície consigo respirar.

O leito do oceano carrega-me, livra-me da inutilidade dessa selva de metais e vidros... posso vir a ter saudades de casa, mas a água é a minha única amante. Tantas vozes me imploram que nade, mas esqueço-me de todos os seus corações - para meu bem estar. O meu sossego é este cruzar de pernas aqui na profundeza.

A dicotomia do que tenho: os meus medos e o medo de perdê-los é ao mesmo tempo completa e incompleta. Mas os medos não vão ter esse medo de me perder, a sua existência foi um simples e vago significado que lhes dei. Agora vou ficar neste oceano sem tempo, só de espaço, o meu espaço, no meu vazio. Quero sentir-me para sempre absolvido de tudo e todos.

Não é que seja desonesto, simplesmente tenho nojo da realidade - e se este desgosto se multiplicar, eu quero que seja este o meu fim. O MEU fim. Algo que eu decida e não acidental, até porque... a minha realidade é minha e eu não gosto dela.

O fim é um início, a morte é a passagem para o outro lado do espelho. A realidade é uma fantasia até que termina e o derradeiro é o único verdadeiro. É o oceano que me dá à luz.

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