ethereal


"palavrão, palavrão, palavrão, palavrão"


"a obviedade óbvia é óbvia"

a música parou... mas ela não. estava possuída, não pelo som mas pelo ambiente. não ia sair dali com fome. dançava com, sem música, com cigarro, sem cigarro, a beber e tudo o que dizia era "vai-me buscar pisang ambom, eu pago-te depois" ou "dá-me um cigarro, eu dou-te um depois", em espécie de rotina. algo nela me era familiar, não sei o quê, provavelmente não era de importância. continuei a minha noite, olhando de vez em quando para constatar que ainda dançava e não parava. supostamente devia-se ter cansado... pensei, pensei mal. delírio foi quando as músicas começaram a ficar mais mexidas e repetitivas. olhei o relógio - 2 da manhã. cago, não seria de bom tom chegar a estas horas, para isto chego de tarde. não estava sóbrio... pude constatá-lo quando olhei  o fumo dos cigarros com afeição, parecia que me puxavam, como buracos negros ou algo parecido. e o clube já ia esvaziando mas não me apetecia sair dali, queria assistir a como a tirariam dali, estando ela possuída. lá me tiraram dali, passei por ela e o que me recordou foi o cheiro.


"nós sentimos facilmente o cheiro do etéreo"


"morta"

e nos dias seguintes repetia-se o espectáculo, dançava da mesma frenética forma, sem parar, sem descansar, sem importâncias quaisqueres a não ser o livrar o seu corpo do que lá tinha que não queria... isto seria no meu entendimento. nunca cheguei a falar com ela, mas a forma como dançava parecia dar mais de si do que pensei. talvez eu também devesse exorcisar as obviedades de alguma forma. eu bem toco... mas não basta. seja escrito, seja pintado, seja tocado, seja dançado, qualquer um, com capacidades humanas e força de vontade pode adquirir o mesmo que os outros. algum dia dançarei como ela? talvez, tal como escreverão como eu.

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