Glória Viva.


Não há razões para desperdiçar o meu tempo no Inferno.

Estou farto de me corroer através do choro e está na hora de me vingar. Por cada pedra atirada, por cada outra face outra estalada, pelas mãos que me cortaram, é agora que vos cuspo nos olhos - e vocês vão gostar. Vou beber shots das vossas lágrimas, porquê renegar todo o potencial que tenho? Vou comer os estilhaços dos vossos espelhos e cada vez que procurarem o vosso reflexo vão ver a minha sombra - tamanho é o Sol que carrego às minhas costas, a sombra do ódio em que vos deixo.

Aproximo-me de cada um de vocês, cegos que não querem ver, e arranco-vos as pálpebras, obrigo-vos a ver tudo, tudo sem fecharem os olhos, tudo o que tiraram a vocês mesmos e me entregaram de bandeja com o ódio que por mim nutriram - as minhas veias juraram vingança pelo escuro e ácido sangue que correu por elas. E assim enterrei os vivos e celebrei a vida dos revolucionários que a entregaram por nós.

Estou à beira da vida, é o meu último passo no corredor do sofrimento. E aqui sinto a última pulsação forçada, está na hora de renascer deste sono e queimar a minha morte. A minha caneta é a porta da glória, a minha tinta são os remorsos de quem me odeia, a minha redenção foi ultrapassada no momento em que falei pela primeira vez (a única coisa de que me arrependo é da dor de parto que dei à minha mãe).

Mudar este tsunami em que vivemos, virar a maré para o cimo de um vulcão e criar novos solos através da lava regelada. Às portas do Inferno vou tirar os cornos ao diabo, esses cornos que têm vindo a apontar a direcção que demasiada gente segue sem questionar nem pensar. Para quê pensar em melhorar se o mundo vive "bem" assim ou pode ficar pior?

Não sei tanto do mundo como poderia saber, sei, porém, de pessoas e todos nós as conhecemos: somos nós e somos os outros. E sei que a acção de muitas sujou o decorrer do tempo de tal forma que o mundo nunca mais girou da mesma maneira, muito menos de uma maneira decente. A Fama do mundo não é uma carpete vermelha, é sim, um purgatório de cujos fogos nos aproximamos a cada boca que mandamos.

O significado de lutar tem vindo a ser deturpado. Há que lutar como anteriormente lutávamos, de caneta desembainhada e escudo no outro braço. E eu orgulho-me da minha revolução, orgulho-me de lutar pela semelhança das diferenças e de entender que o maior conflito é a aceitação, em relação a nós mesmos, porque sem nós de que importam os outros?

Comentários

  1. Sr. Tiago Filipe,
    Venho por este meio comunicar que fui congratulado com o grande prazer de ler este seu novo texto. Sem nenhuns rodeios e demoras (tenho uma reunião às 12h) explico-lhe já que é um texto MUITA BOM!
    Peço desculpa pelo meu descuido. Não voltará a acontecer.
    Bem... como ia dizendo, estou perante um texto completamente fantástico e que, mais uma vez, me surpreendeu pela positiva.
    Num aparte, o último parágrafo está simplesmente brilhante!
    Com os melhores cumprimentos.

    Tiago Alves
    (Administrador do Computador de Casa Dele em Felgueiras, Lda.)
    ;)

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